ESTÉTICA
Identificando os
fenômenos da verdade, do bem e do belo como questões fundamentais do
pensamento, o estudo da filosofia, desde os seus primórdios na Grécia,
concentrou-se em três áreas que serão posteriormente chamadas de metafísica (ou
teoria do conhecimento), ética e estética, respectivamente. A estética é o
pensamento filosófico que estuda a arte e o belo.
Derivada do Grego aísteses (percepção),
a palavra estética remete à compreensão proveniente da apreensão sensível, a
intuição da beleza.
No posfácio de seu
livro A origem da obra de arte,
o filósofo alemão Martin Heidegger afirma que: "Desde o tempo em que
despontou uma reflexão expressa sobre a arte e os artistas, tal reflexão se
chamou estética". Todavia, como área da filosofia, a estética deve ser diferenciada
do estudo da história da arte. Enquanto este procura descrever as diversas
manifestações artísticas, em seus elementos específicos e gerais, a estética,
como todo pensamento filosófico, busca pensar a condição de possibilidade, a
origem, de toda manifestação artística.
Podemos remontar o
primeiro passo deste pensamento ao momento em que Sócrates pergunta ao pintor
Parrásio "O que é pintura?". A pergunta pelo o que é propõe operar
uma transposição da compreensão prática de quem faz, para o entendimento
teórico de quem pensa, buscando determinar não as particularidades singulares
dos fenômenos, mas a sua essência universal.
Platão interpreta a
arte de modo ambivalente. Por um lado ele condena a pintura e a escultura como
artes ilusórias, pois elas falsificam a imagem das verdadeiras formas da
natureza; por outro, elogia a música e a dança como exercícios de educação para
a compreensão do bem e da verdade. Para Platão, há um nexo fundamental entre o
belo, o bem e a verdade, sendo a experiência de um a condução para o
conhecimento do outro. Todavia não podemos caracterizar a constituição de uma
estética no pensamento e nem na obra de Platão, pois a questão da arte e do
belo só é colocada numa referência ao bem e a verdade, tendo como propósito não
uma investigação do fenômeno artístico, mas uma determinação do conhecimento
filosófico.
Aristóteles é o
primeiro pensador a escrever uma obra acerca da questão da arte. A Poéticatem
como tema a origem da poesia e de seus diferentes gêneros, principalmente a epopéia
e a tragédia. Sua tese fundamental, de que a arte imita a natureza, tornou-se um paradigma para
todo o pensamento estético ocidental. Platão e Aristóteles foram interpretados
por Tomás de Aquino em sua Suma Teológica, que afirma que o belo é um dos aspectos
fundamentais do ser, juntamente com o bem e a verdade; o que efetiva a
tripartição do estudo do ser em estética, ética e metafísica.
Todavia, somente no
século XVIII, Baumgarten vai inaugurar oficialmente a disciplina filosófica
"estética", com a publicação de seu livro Estética ou teoria das
artes liberais, conceituando-a como "ciência do belo e da
arte".
Kant consolida esta
tripartição da investigação ontológica, o que cria a estética como uma área
determinada do estudo da filosofia, elaborando o seu sistema crítico através de
três obras, de acordo com os três domínios da questão do ser: a Crítica da Razão pura,
que trata da verdade, a Crítica da Razão prática, cuja questão é o bem, e a Crítica da faculdade do
juízo, que investiga a experiência estética do belo como atitude
contemplativa, desinteressada e não conceitual, das faculdades humanas.
Para o idealismo alemão de
Schelling e Hegel, a
arte é instância em que o espírito, tornando-se consciente de seus próprios
interesses, desperta para a sua vontade de absoluto. A arte constitui a
primeira etapa da dialética que, juntamente com a religião e a filosofia,
compõe os três momentos da auto-superação do espírito em busca do absoluto.
Friedrich Nietzsche pensa a arte como estimulante vital, tônico contra o
pessimismo da decadência platônico-cristã: "Temos a arte para não
perecermos da verdade".
Em O nascimento da tragédia,
Nietzsche compreende a arte como uma composição de dois instintos da natureza,
o apolínio e o dionisíaco,
sendo a tragédia uma arte que nasce no equilíbrio da tensão harmônica entre
estes dois instintos fundamentais. Apesar de em Nietzsche não encontrarmos mais
uma divisão de seu pensamento nas três áreas da investigação filosófica, é Heidegger que
rompe definitivamente com a tripartição da questão ontológica, determinando a
arte, em sua obra Origem da obra de arte, como o
"Pôr-se em obra da verdade" e, assim, conduzindo o problema da arte
para a questão da verdade, e não para a do belo, conforme os tradicionais
estudos da estética
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